segunda-feira, 21 de março de 2011

Na mumentu sertu


“Antis din ganhau, nkre ganha nha kabesa.

Antis dim konkista bu rispetu, nten ki konkista nha rispetu y amor propriu.

Antis dim amau nten ki ama nha kabesa.

Antis dim odjau, nten ki odja nha kabesa, nten ki xinti kada padas di nha ser.

Antis dim nkontra ku bo, ntem ki marka um inkontru ku mi mesmu.

Antis dim tokau, nten ki toka nha ser, imprizional, dal mó, viaja ku el y lebal pa undi nkre lebau,

Antis di tudu, inda nten ki fazi pa mi mesmu kel prumesa di amor eternu, ka fazi nha ser sufri, difendel, di tudu sentimentus, atus e palavras negativus.

Dipos di tudu keli, y na momentu sertu nta ama a mi y a bo

Nta sta prontu pa amanu, sem skeci di mi y di bo.

Sem skesi di Nos”.

Por Ama

quinta-feira, 17 de março de 2011

O impacto do "tráfico escravagista" na condição das mulheres africanas

CAPÍTULO I

Parte I - "De Mulher Protagonista ..."
Na sociedade africana antiga as mulheres eram rainhas, mães e guerreiras, elas participavam activamente nas suas comunidades em todos os sectores da vida humana, combatiam à frente de grandes exércitos, presidiam cultos e dedicavam-se à caça. As mulheres africanas eram excelentes governantes, dentre as quais emergem grandes Rainhas, como a Nzingha, rainha de Ndongo (actualmente Angola) e líder da resistência contra o tráfico de escravos dos portugueses; Aqualtune, Princesa de Congo que participou na organização de uma fuga de escravos para Quilombo de Palmares - Brasil; Nanny, Rainha de Gana que liderou os Maroons de Jamaica; Yaa Asantewa, rainha-mãe de Ejisu, em Gana, que promoveu a batalha dos ashantis em busca do resgate da própria dignidade.
Na África antiga a posição da mulher na sociedade é complementar ao do homem e vice-versa. Cada membro da família tinha as suas funções equitativamente distribuídas. Aliás, anos remotos (aproximadamente 8000 A.C.,), a maioria das sociedades africanas era "matricêntrica", "matrilinear" e "matrifocal". Na civilização núbio-cuxita as dinastias denominadas Candaces eram femininas. A mulher africana tinha uma posição adequada à sua condição, ela é devidamente respeitada e reverenciada.

Parte II - O Tráfico Escravagista (século XV-XVIII)
No século XV os europeus ilegitimamente invadiram o continente africano, capturaram pessoas e institucionalizaram o tráfico de escravos, que provocou muitas e fortes transformações no seio das sociedades africanas, sentidas até hoje. Esgotou-lhe o seu elemento humano: homens, mulheres e crianças foram brutalmente arrancados da sua terra africana e introduzidos na Europa, América, para darem involuntariamente o seu contributo físico no incremento da economia do "país acolhedor".
As mulheres, antes rainhas, guerreiras, foram transformadas em mero objecto, sexo e trabalho. O tráfico demandava muita mão-de-obra forçada feminina. As mulheres eram escravizadas para reproduzir, servir de amantes, fazer trabalhos domésticos e agrícolas.
Mesmo as mulheres, que conseguiram permanecer em Alkebulan (nome original de África), não sobreviveram aos efeitos da escravatura e foram obrigadas a humilhação e gradual degradação, pelos europeus que depois mantiveram nos países africanos sob a forma de colonialismo.

Parte III - "... À Mulher Estigmatizada"
A mulher africana é por muito tempo marcada pelo tráfico de escravos. De mulher protagonista, respeitada e reverenciada foi transformada em "mulher-objecto, mulher-sexo e mulher-labor".
Forçosamente incorporadas a sociedades exclusivamente patriarcais e transformadas em mão-de-obra forçada, ainda, pior, em amantes dos senhores brancos, as mulheres africanas foram perdendo a auto-estima e a própria dignidade. Nos séculos XVI a XIX, ela é ainda percebida como ser inferior.
Com o tráfico de escravos, os homens habituaram-se a comprar mulheres africanas no mercado para torná-las concubinas "suscetíveis de serem despedidas dependendo apenas da vontade do homem" - África Negra. Histórias e Civilizações.
A mulher africana é, assim, subalternizada, estereotipada, discriminada e socialmente excluída. Surgindo, deste modo, o fenômeno das mães solteiras, de mulheres vítimas de violências, no seio familiar ou em campos de refugiados (Senegal, Sudão). De forma contínua, mentalmente oprimidas por sociedades patriarcais.
Não obstante, nós as mulheres africanas ainda temos a essência das grandes rainhas-mães-guerreiras. (...)


CAPÍTULO II
Resistência da Mulher Africana
Rainhas-Guerreiras-Africanas


Sem jamais aceitar a condição de ser inferior, rainhas como Nzingha (Angola), Yaa Asantewa (Gana), Nanny (Gana) e Aqualtune (Congo) lideraram grandes movimentos de resistências contra o tráfico de escravos, dentro e fora do continente africano.

Parte I - Rainha Nzingha (1583-1663)
Nzingha, governante e líder militar dos Jagas, assim como a maioria dos africanos, nunca aceitou a conquista portuguesa e esteve sempre na ofensiva militar. Convenceu o seu povo da influência perniciosa dos portugueses e dirigiu intensivas mensagens politícas e patriotas apelando aos angolanos por seu orgulho de serem africanos. Ela foi uma visionária líder política, competente, altruísta e devotada ao movimento de resistência.
Em 1623, com a idade de 21 anos, Nzingha tornou-se rainha de Ndongo (Angola), e logo fortaleceu sua posição de poder, proibiu ser chamada Rainha, assim como a rainha Hatshepsut, exigiu ser chamada de Rei e, na liderança militar, vestia roupas de homem, exigindo desde esta época a Igualdade de Género.
Com a sua morte, começou a ocupação portuguesa do sudeste de África. A massiva expansão do comércio de escravos português seguiu este evento.
Na resistência ao comércio de escravos e o sistema colonial que seguiu a morte da Rainha Nzingha, muitas mulheres africanas ajudaram a montar ofensivas em toda a África. Entre as mais excepcionais estão: Tinubu, de Nigéria; Nandi, a mãe de Chaka, grande guerreiro Zulu; Kaipkire do povo Herero de Sudeste de África (o povo Herero, a sul de Angola-Namíbia, no século XIX até 1919, desenvolveu uma grandiosa luta contra os soldados alemães europeus); e todo o exército feminino que seguiu o rei de Daomé Behanzin Bowelle.

Parte II - Rainha Aqualtune (século XVII)
Aqualtune é a filha de um rei de Congo, que liderou um exército numa batalha contra os Jagas, antes liderado militarmente pela Rainha Nzingha. Os Jagas devidamente apetrechados com armas de fogo, facultadas pelos escravistas europeus, derrotou o exército de Aqualtune, tornando-a prisioneira. A rainha Aqualtune foi levada cativa para um navio de tráfico de escravos e depois vendida como escrava reprodutora. No navio que dirigia para o Brasil, foi obrigada a ter relações sexuais com outro escravo.
Ela grávida foi vendida e levada para o Pernambuco, onde escutou as histórias de resistência dos africanos contra a escravatura no Brasil, sabendo, assim sobre a existência do Quilombo dos Palmares.
Nos últimos meses de gravidez Aqualtune participou de uma fuga para o quilombo. No quilombo teve a sua ascendência real reconhecida e passou a governar um dos territórios quilombolas, onde as tradições africanas foram mantidas.

Parte III - Rainha Nanny (1680-1730)
A Nanny, rainha guerreira dos Maroons, nasceu em Gana, descendente de família real e foi para a Jamaica, onde até hoje é tida em elevada estima, como a figura mais importante na sua história. Porque ela foi líder espiritual, cultural e militar dos Maroons de Windward. Liderou os Maroons durante o mais intenso período de sua resistência contra os britânicos, entre 1725 e 1740.
A Rainha Nanny exerceu um papel da maior importância na preservação da cultura e da tradição africana. Ela promoveu a unificação dos Maroons. Assim, é, desde 1976, Heroína Nacional da Jamaica.

Parte IV - Rainha Yaa AsantewaNo fim do século XIX, os Britânicos, na sua tentativa de tomar as terras de Gana, em 1896, exilou o Rei Asantehene Prempeh. Em 1900, ainda sem conseguir controlar o Gana, os Britânicos enviaram um governador a Kumasi, capital de Ashanti, para exigir o "Golden Stool", símbolo supremo da soberania e independência do povo ashanti, a sua Arca de Aliança.
No dia 28 de Março de 1900, o governador Hodgson, convocou uma reunião com todos os reis da cidade de Kumasi e informou-lhes que a indemnização exigida pelos britânicos ainda não foi paga e o rei Prempeh não retornará a Gana. Os britânicos exigiam deles o "Golden Stool".
Esta demanda significava um insulto para o povo Ashanti, mas o governador de nenhuma forma entendia o significado sagrado do "Golden Stool", que de acordo com a tradição, continha a alma do Ashanti. O povo Ashanti em silêncio ouviu o governador e assim terminou a reunião.
À noite os chefes fizeram uma reunião secreta em Kumasi, debatiam a guerra contra os homens brancos e a forma de trazer para Gana o seu rei quando Yaa Asantewa percebendo que alguns chefes sentiam medo dizendo que não devia ter guerra porque eles podiam simplesmente implorar o governador para trazer o rei de volta ao Gana, de repente, levantou-se e falou o seguinte: "Sinto que alguns têm medo de lutar pelo vosso rei. Se teve nos dias bravos antigos, Osei Tutu, Okomfo Anokye e Opolu Ware, chefes que não sentaram a ver seu rei ser levado sem disparar um tiro. Nenhum homem branco podia falar aos chefes de Ashanti na forma como o governador falou convosco chefes esta manhã. É verdade que já não há bravos de Ashanti? Não posso acreditá-lo. Sim, não pode ser! Eu preciso dizer isto: Se vocês homens de Ashanti não podem avançar, então vamos nós. As mulheres. Eu posso chamar as minhas compatriotas mulheres. Nós iremos lutar contra o homem branco. Nós iremos lutar até a última de nós cair no campo de batalha" (tradução de texto em inglês).
Por isso à guerra empreendida depois pelo povo ashanti contra os homens brancos foi dada o nome de Yaa Asantewa. A guerra Yaa Asantewa foi a última maior guerra na África liderada por uma mulher.

Por Ababa Abenaa.
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Algumas referências bibliográficas:
1. Afrocentricidade. Uma abordagem epistemológica inovadora. Sankofa 4. Matrizes Africanas de Cultura Brasileira. A identidade contraditória da mulher brasileira: Bases Históricas.
2. Elikia M´Bokolo. África Negra. História e Civilizações. Tomo I (até o século XVIII). Casa das África. EDUFBA.
3. Black Women in Antiquity. Ivan Van Sertima.

terça-feira, 1 de março de 2011

O Papel das Mulheres Negras na Diáspora

Por Kati*Éwa Ireti

As mulheres Negras tiveram uma experiência histórica diferenciada que o olhar míope e clássico do racismo não reconhece, bem como as opressões sofridas por essas mesmas mulheres passam sem grandes atenções, o que caracteriza situações de exploração, que acaba por influenciar nas construções da identidade feminina negra.

A figura do ser negra no contexto diásporico aparece a partir de uma movimentação política existente desde processo de escravidão. No entanto a situação dessas mulheres é silenciada por esse mesmo processo que as não identifica como sujeito de ação. As mulheres negras representaram no contexto histórico as mentoras de lutas de sobrevivência, sobre tudo as sua, em um cenário onde viver sem possíveis agressões tanto físicas como mentais não nos era permitido.

Em torno de nossa figura, criou-se o mito da super preta, onde o papel de fragilidades era inexistentes, esses por sua vez destinados as moças de pele rosadas denominadas: Sinhás.

Longe de fragilidade, as mulheres negras Africanas na diáspora usavam desta suposta força como estratégias de poder para sobreviverem, transformar a fraqueza (ou fragilidade percebida) feminina em força é quase um rito de passagem para as mulheres Africanas na história.

Audre Lorde Ativista do movimento negro americano (1934-1992) analisa em seu texto incluído na coletânea de Mari Evans (1984, p261) ,que se a fraqueza da mulher Negra de fato existe, é apenas para manifestar sua força. Se a mulher negra Africana atribuir à fraqueza mais substancial do que isso, significa que ela sucumbiu ao medo – que não seria impedimento para trabalhos maiores.

Neste contexto as mulheres negras sobreviveram às opressões sofridas criadas pelo racismo como forma de política de manter seus direitos garantidos.

No entanto a visão criada sobre nós mulheres negras não foge muito de olhar estereotipado, o que mudou foi à forma de sermos vistas, ontem mucamas, a serviços de frágeis sinhás e senhores de engenho, hoje domésticas de mulheres liberais e dondocas ou a eterna imagem de mulatas boas de samba.

Com o inicio das ações políticas feministas, as mulheres negras percebam que sua luta partia de necessidades e processos diferenciados, a busca de emancipação baseado em uma vivência branca, não nos fazia sentido.

Enquanto as mulheres brancas buscavam direitos de evitar filhos, as mulheres negras reivindicavam o direito de tê-los, criá-los e vê-los vivos até a velhice – Como nos ilustra Jurema Werneck em sua passagem no texto A face Negra do Feminismo no Livro Saúde das Mulheres Negras.

Outro ponto identificado e não menos importante era o direito de trabalhar, e serem reconhecidas nos espaços de trabalho, para nós que trabalhávamos há mais de 500 anos em mão de obra escrava e sem escolha de patrão e horas extras de estupros recorrentes, servia apenas a bandeira da luta por direitos trabalhistas.

A importância dessas questões para as populações vistas como descartáveis, como a população negra e sobretudo as mulheres negras, impulsionou um olhar negro sobre o feminismo, longe dessa esfera eurocêntrica na qual não nos contemplava.

A luta de Lélia Gonzáles e Beatriz Nascimento na construção de um novo olhar para esse feminismo e de tantas outras mulheres brilhantes pretas, cria a possibilidade das mulheres negras reafirmarem uma luta histórica de mais de 500 anos de resistência.

Nas diversas formas de interpretar o feminismo, olho com mais atenção a uma forma de construir políticas para as mulheres negras em um paradigma onde a população negra possa andar em conjunto, falo do mulherismo africano, uma articulação feminina totalmente distinta do feminismo branco e de alguns olhares viciados desse mesmo feminismo, muitas vezes vivenciado por nós mulheres negras. Um olhar voltado unicamente pra as interpretações africanas, criado para alcançar todas as mulheres negras em África e Diáspora, baseada em uma vivencia diária em saberes africanos.

Katherine Bankole no seu texto Mulheres Africanas nos estados Unidos - Publicado no livro Afrocentricidades da coleção Sankofa, Volume 4, de 2009 - Apresenta uma olhar mais atenta sobre essa forma de vivenciar o ser mulher negra, faz uma importante analise emergente de como se construir um olhar de feminilidade Africana, criticando esse olhar de feminista apenas em uma construção de gênero.

Vivenciar essa forma de feminilidade é mais próximo de África que podemos chegar, criando regras de avaliação de suas feminilidades, o que na verdade há muito já são vividas por nós mulheres Africanas e Afro-Diásporicas. Embora mulheres negras e brancas se aproximem no diálogo de feminilidade a vivência de mulheres negras não passa pela aprovação ou deliberação de um patriarcalismo branco, essa dependência se torna inexistente, assim como a auto afirmação de uma feminilidade distorcida.

Em um olhar enegrecido sobre as óticas feministas mulheres pretas e homens pretos lutam de uma forma igual à eliminação desta doença eurocêntrica chamada sexismo.

No entanto eliminar essa patologia enraizada é um ponto chave para construção de esse olhar negro. Como nos ilustra mais uma vez Jurema Werneck :

A luta pela emancipação da mulher negra não tem por finalidade apenas formar mulheres seguras, capazes e brilhantes, que visem com isto adquirir privilégios individuais. Essas conquistas são como veículos para gerar transformações na vida da população negra (Extraído do texto A face Negra do Feminismo – Livro A saúde das mulheres Negras).

O papel das mulheres negras na diáspora perpassa pela luta histórica construído por essas mesmas mulheres, vinculado a um berço africano enraizado em nossas vivências diárias de luta e permanência de um saber africano, a possibilidade de uma modelo civilizatória com base nos valores anti-racistas, afrocentrados, vivenciados pela população negra em sua esfera mundial, torna a luta de nós mulheres negras um alicerce para construção de um novo devir... Um devir Negro!

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BIBLIOGRAFIA:

BANKOLE. Katherine. “Mulheres Negras nos Estados Unidos”, Livro: Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. Elisa Larkin Nascimento (org.). São Paulo: Selo Negro,2009. (Sankofa : Matrizes Africanas da cultura brasileira; 4).

CARNEIRO. Sueli. Enegrecer o Feminismo. Artigo Apresentado no Seminário Internacional sobre Racismo, Xenofobia e Gênero, organizado por Lolapress em Durban, África do Sul, em 27 – 28 de agosto 2001. Publicado em espanhol na revista LOLA Press nº 16, novembro 2001

LEMOS. Rosália Oliveira. “A face Negra do Feminismo – Problemas e Perspectivas”, Livro: O livro da Saúde das Mulheres Negras: Nossos passos vêm de longe. Jurema Werneck (org.), Maisa Mendonça (org.), Evelyn C.White (org.). Maisa Mendonça (tradução), Marilena Agostini (tradução), Maria Cecília MacDowell dos Santos (tradução) – 2 ed. – Rio de Janeiro: Pallas /Criola, 2006.