terça-feira, 16 de março de 2010

“Mulher Sagrada: O estado do seu ventre reflete o estado da sua vida*”

O ventre é o portão de toda a vida humana. Quando o ventre é honrado e respeitado, ele se torna um canal de poder, criatividade e beleza – e a sua alegria reina sobre a terra. Quando a sua voz não é ouvida, não é respondida, é negada, o ventre torna-se um vaso de doença.

O estado coletivo dos ventres das mulheres reflete a condição do mundo. Quando, de fato, muitos úteros de mulheres sofrem de tumores, cistos, frigidez, e sangramento mestrual excessivo, quando, de fato, muitas mulheres experimentam atos agressivos sexualmente e histerectomias (extração total do útero) desnecessárias, então a desarmonia cobre a terra.


A condição dos ventres das mulheres também reflete diretamente as condições das mentes, dos espíritos, e ações das mulheres. O ventre é o depósito das nossas emoções. Ele coleta todos os sentimentos – bons e maus. Hoje nós temos alcançado coletivamente um estado de “poder negativo do ventre”.


A vida não natural e o estilo de vida não sadio perpetua o poder negativo do ventre, e isto transforma-se em suporte de conflitos de homens contra o planeta, homens contra homens, e mulheres contra o ventre. A condição do ventre das mulheres reflete a condição de todos as seus relacionamentos. Quando o ventre da mulher está num estado saudável, sua vida é uma reflexão deste balanço.


O amor e o cuidado que a mulher dá ao seu ventre reflete o seu verdadeiro nível emocional, espiritual, físico e saúde mental. Infortunadamente, muitas mulheres no mundo de hoje também experimentam alguma forma de degeneração do ventre que resulta em doença. Como nós mulheres curamos e transformamos nossos ventres, nós mudamos nosso destino e o destino do nosso planeta.


Mulheres, está na hora de pegarmos de volta o controle. Nós devemos defender nossos ventres com nossas vidas, porque o ventre é a terra natal de todas as nossas habilidades criativas.


*Pequeno trecho traduzido de “The state of your womb reflects the state of your life” p. 2. In Sacred Woman: A guide to healing the feminine body, mind, and spirit, de Queen Afua, a partir de leituras feitas entre Núbia Maré e Vadinho, e Núbia Maré e Indira.

kontribuison khemsvibe.

segunda-feira, 8 de março de 2010

MULHER

Nossa mãe-rainha.

Outrora grandes Candaces (mães-rainhas), criadoras, governantes, conselheiras, protectoras, divindades, guerreiras, companheiras. Desde o princípio a mulher sempre esteve Pre-sente. Contribuiu, juntamente com o homem, no percurso normal do Un-I-Verso, de forma recíproca. É a fundadora e a primeira educadora da humanidade. Recebe a Vida, lhe alimenta, cria e apresenta ao mundo, à sociedade.

No início eram a mulher e o homen, “Carne da minha Carne e Ossos dos meus Ossos” - Umoja. Por isso, adulto “o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam UMA só pessoa” (in bíblia sagrada).
«A mulher é o repositório da civilização, a guardiã dos segredos da sociedade, mãe de deuses, a manifestação de um princípio universal “feminino” que viu o universo, a terra e o subconsciente como o “útero” para a expressão da vontade Divina».[1]

Podemos citar a Candace Tyie, “a moda é profundamente influenciada por ela. Seu estilo de cabelo, seus brincos, ... dita a beleza feminina na corte real.”[2]

Governou como cônjuge rainha e mãe rainha de Egipto por metade de um século, antes de Cleopatra e Nefertiti. Foi a Candace nubia (terra de ouro) de egipto, Grande Esposa Real de Amen-hotep III, que disse ser ela «a rainha, a mais estimada, a esposa de graça, delicada em seu amor, quem preencheu o palácio com a sua beleza, a Regente de Norte e Sul, a Grande Mulher Rainha do Rei que a ama, a senhora de ambas as terras».

Mãe, por imposição legal, de Candace Nefertiti, que era casada com Akhen-aton, o mais velho dos seus sete filhos. Quando tinha quase 50 anos trouxe ao mundo o seu último filho, Tut-ankh-amen.

Nefertiri, foi uma outra grande Candace: a Rainha duma Missão Sagrada. No seu Tempo a mulher não era principal, que profetizava ou participava nas políticas sociais, mas objecto de sensualidade ou para ser usada pelos homens. Regista o Código de Hamurabi (fonte das actuais legislações) a época que havia o Tirhato, o preço da mulher para transações afectivas. O esposo comprava a sua mulher e podia fazer dela o que quisesse. Tornar a mulher um valor de troca, fazê-la assim sentir, foi empiricamente determinado por psicólogos antigos que pretendiam eliminar o ar de superioridade do nariz da mulher.

Entretanto, Amun-hotep IV (posteriormente, Akhenaton) escolheu a Nefertiri para ser a sua grande rainha mulher, a fundação da sua família. Ela que foi a mulher mais estimada daquele tempo. Principalmente porque não tencionava perpetuar a antiga ordem. Não quis relegar-se a norma tradicional de rainha servil.

Ela visionava um papel activo para ela na remodelação da civilização. Então, numa época de intensos conflitos no Egipto contra o domínio do clero sobre a sociedade, Nefertiri e Ankhenaton decidiram construir uma nova cidade, Akhetaten. “Uma cidade onde a arte pode florescer, onde homem/mulher querem representar a beleza, paz e felicidade”. Nesta cidade, puderam dar nascimento à sua sagrada missão: a missão à procura da Vida Divina, durante a qual tiveram seis filhas.

Como Isis, Nefertiri fez o que pode para manter o domínio de Ma´at (mulher rainha da Ordem, Equilíbrio, Equidade, Verdade, Justiça, rectidão).

E a Isis é a nossa «original madonna (Virgem) negra, a senhora dos milhares de títulos, a Grande Feiteceira, Senhora do Paraíso, sensibilidade feminina, Amor de Irmã, Senhora da Magia, Senhora da Luz, Aposento-de-Nascimento-de-um-Deus, Senhora do Nascer do Sol, A Bela e a Amada, Senhora da Abundância, Rainha Abelha: Fazedora de Mel, Aquela que Chora...» e abunda o Vale de Nilo.

Em períodos mais recentes já sobressaem as grandes rainhas guerreiras africanas como a Grande Rainha Hatshepsut, uma das primeiras rainha-guerreira da história africana, que proclamou-se Pharaoh de Egypto e bem a governou por, dissem, 21 anos.

Também quando a Ethiopia era o centro do mundo, antes da Europa emergir, era governada por uma rainha, Candace Makeda, a Rainha de Sheba. Dissem-nos que a sua luta foi mais diplomacia do que militar, ao contrário do que foi para a Hatshepsut.

Em Angola, outrora Ngoli Nbondi, havia a poderosa Nzinga que fortemente lutou contra o colonialismo português. Quando os portugueses desembarcaram, ela tentou negociar (conversar) com eles, mas quando percebeu que eles pretendiam apenas roubá-los, assimilá-los, desculturá-los e aculturá-los, em detrimento da sua própria cultura africana, organizou o exército e liderou-lhe numa luta armada contra tal colonialismo.

Grande defensora da independência e Liberdade do seu país, ela dizia “mais valia a morte de arco e lança na mão, sim senhor, que a vida, mesmo de mil anos, servindo. A vida de escravo.” (Leia mais neste blog sobre: Nzinga Mbandi Ngola. Meio caminho não andaram: uma carta).

Na resistência ao comércio de escravos e o sistema colonial, mulheres africanas, ao lado dos seus companheiros ou maridos, ajudaram a montar ofensivas por todo o continente africano: Empress Menem e Titul Bitul de Ethiopia, Tinubu de Nigéria; Nadi, a mãe do grande guerreiro Chaka; Kaipkire do povo Herrero de sudoeste de África; e o exército feminino que seguiu o grande rei daomeano, Behanzin Bowele.

A Yaa Asantewa, mãe rainha de Ejisu, que foi expatriada por ter inspirado a guerra do povo Ashanti – a denominada Guerra Yaa Asantewa – contra os britânicos que mantinham exilado o seu rei Prempeh para conseguirem o Banco Dourado, a arca de aliança deste povo.

A Harriet Tubman, grande condutora de Underground Railroad, que levou à liberdade vários escravos nos Estados Unidos da América, e outras grandes mulheres africanas da actualidade (dentro e fora do continente), fundadoras e educadoras das suas famílias, companheiras, grandes líderes e governantes, que permanecem perseverantes na luta pela liberdade, igualdade, justiça.

A mulher tinha (e ainda tem) um valor (não de troca para transações afectivas) e sabia disso, conhecia o Segredo da Vida e respeitava-a, não havia necessidade de preocupar-se com a afirmação. No entanto, a mulher de hoje co-habita mais o homem num círculo activo de agressões (verbal, física e espiritual). Sendo poucas aquelas que queixam-se ou libertam-se deste ambiente ambivalente e inúmeras as que suportam a dor conforme podem (Leia “Foram as dores que o mataram”, em Mornas as Noites de Dina Salústio,).

É unânime que a Educação (principalmente a educação-alternativa) é o principal remédio para a resolução efectiva desta problemática denominada “violência baseada no Género” ou, concretamente, “Violência Doméstica”. Uma situação, condição ou factor crescente de corrompimento da raiz da família, que reduz caoticamente a actuação positiva da mulher na sociedade como fundadora e educadora da família, ao invés, constitue famílias desiquilibradas e desestruturadas, uma plêiade de jovens com mentes transtornados, assim, de efeito espiral.

Presentemente, a luta permanente da mulher africana tem sido resgatar o seu valor e dignidade ancestral e não apenas a Igualdade e Equidade de Género. Ela pretende alcançar um estado de igualdade com o homem, mas, permitam-nos dizê-lo, claro sem generalizar, tem o feito de forma equivocada, sem antes procurar o ontem, no passado. Sem antes identificar ou conhecer o que fora. Aí, ela vem mudando e ensinando comportamentos, faz trabalhos pesados como carregar penedos, é novamente chefe, porém prossegue desconhecendo o seu Real Valor.

Analiticamente, em relação à mulher Rainha e guerreira de Nubia, Egypto, Ethiopia, Angola, Gana, Nigéria, Daomé, nota-se que hoje ela reflecte, mesmo inconscientemente, os hábitos e aspirações da mulher européia, principalmente da antiga Grécia e Roma, em constante repressão à acção da sua verdadeira identidade.

Interessa à mulher africana actual, rainha e guerreira, ser e estar em equilíbrio e harmonia com a Vida em total respeito à Ordem das coisas. Ela precisa regressar ao seu útero (nascer de novo) e destruir este sistema anacrónico que lhe atribue apenas um valor pecuniário, a condição de simples propriedade privada (“pikena”).

Neste mês de Março, considerado da Mulher e principalmente a Mulher Africana, honramos todas as nossas grandes mulheres mães, rainhas e guerreiras.

Ababa Abenaa.

[1 e 2] Tradução

... A MULHER IDEAL ...

Amando como um louco, em busca da ventura,
procuro em vão no mundo uma mulher ideal!
Por cada amor que tive, uma mulher fatal
surgiu na minha estrada, e trouxe-me amargura!

Por cada amor que tive – um sonho meu desfeito,
um sonho encantador, que abraço com paixão!
Sonhar que se desfaz em cálida ilusão,
que abruma, sangra, fere e abandona meu peito!

Por cada vez que amei, imaginei um anjo,
uma mulher divina, altiva e caprichosa!
A flor do meu jardim, a perfumada Rosa,
um ente celestial mais puro que um arcanjo!

Por cada vez que amei, minha rosa sonhadora
sonhou prazer, ventura e um mundo delicioso ...
Viu tudo côr de rosa, ameno e fulgoroso,
E, ao fim, quedou-se triste, aflita e sofredora!

Por cada amor que tive, a minha lira pobre,
entusiasmada e alegre, o meu amor cantou.
A flor por mim amada, ao píncaro elevou
da pura adoração, da santidade nobre!

Desiludida, ao fim, em voz triste e pungente,
a lira que cantara, a minha dor chorou!
Em verso doloroso, amargo, ele cantou
meu mal, minha ilusão, a sina dum sofrente!

Por cada amor que tive, eu tive uma ilusão,
um sonho de inocente, um dia de amargura!
Ferido pela dor, em vez de ter ventura,
recolhe-se a chorar meu pobre coração!

Meu peito desdenhado em busca dum amparo,
volúvel se tornou, amando dia a dia!
Procuro, em vão no mundo, o amor, uma alegria,
duma mulher celeste, um ente puro e raro!

Amando como um louco, em busca da ventura,
procuro em vão no mundo uma mulher ideal!
Porém, por cada amor, uma mulher fatal
encontro em minha via, e deixa-me amargura!


Abel Djassi (Amílcar Cabral)

Ninam na bus brasus

Mama Afrika, ventri sagradu di undi brota vida,
Fonti di inspirason pa kaminhus di retidon, amor e verdadi, mãe di amor inkondisional,
Di tudu sufrimentu, di tudu injustiza ki bus fidjus dja pasa, inda bu ka disisti di um dia tenéz na bus brasus,
mostranu kaminhu di volta pa kasa, inda nu sta perdidu, nu sta spadjadu pa tudu kantu des mundu, emigrantis klandestinus na diáspora.
Bus fidjus inda ka disisti di torna dau bu lugar, bu verdaderu lugar, bu tronu di rainha, raínha di raís finkadu.
Mama ventri di mudjeres di dor, mas lutadoras... di forza, kontinenti di mudjeris negras di pele brilhanti sima noti di strela.
Mudjeres di beleza inigualável e kubiçadu pa kenha ki ka ta podi intendi nós origem.
Nu volta pa nós kasa, pa nós verdaderu ragás, undi nu ka ta djobedu ku ódio, nem dispresu...afinal nós é di mesmu raíz.
Nu dexa mama Afrika toma konta di nós, nu dexal kontanu e kantanu nós stória, nós verdaderu stória sem mas, sem menus, mas nós stória. Txom di homis di koragem, homis di resistentis... nu bem xinta na sterra e prendi ama di novu, nu bem prendi adimira nós negros e negras, nu bem konxi nós ancestrais...nós heróis e nós iternus guerreiros.
-Hora kin tchiga na bó mama, dexam deta nha kabesa na bu ragás, dexam txora tudu nhas doris, nhas máguas...
Passa bu mon na nha kabesa di mansinhu, ninan na bus braços, dam amor sarra nhas fridas...
Danu dom di perdon..djunta bus fidjos ki exploradoris spadja...
inxinau ama.. ama... y ama...

(escrito em 19/12/09, às 18:26 por Ama)