terça-feira, 31 de março de 2009

Decreto-Lei nº 8/2009 institui o Alfabeto CaboVerdiano (ALUPEC), aprovado em regime experimental pelo Decreto-Lei nº 67/78 como Alfabeto-Caboverdiano

As Primeiras experiências de escrita na língua caboverdiana datam do século XIX, sendo o fi lólogo português Adolfo Coelho o pioneiro dessa experiência com o seu ensaio sobre «Os Dialectos Românicos ou neolatinos da África, Ásia e América», publicado em 1880.

1. Experiência Etimológica
A experiência de Adolfo Coelho baseava-se no alfabeto português, de base etimológica, utilizado de forma pouco sistemática e pouco económica.

Em 1885 surge um novo modelo de escrita do caboverdiano com António de Paula Brito no seu ensaio «Apontamentos para a Gramática do Crioulo que se fala na Ilha de Santiago de Cabo Verde».

Trata-se de um modelo de escrita baseado no alfabeto português, mas traz a novidade de ser largamente sistematizado, aproximando-se muito da escrita de base fonético-fonológica um modelo que surgiria mais tarde, já no século XX, particularmente na chamada Escola de Praga e de Ferdinand Saursure.

A proposta de António de Paula Brito, apesar de ser muito mais funcional que o alfabeto de base etimológica, não fez escola em Cabo Verde. Desconhece-se qualquer utilizador desse modelo para além do seu autor.

A experiência de Adolfo Coelho, porém, teve alguma continuidade no século XIX e mesmo no século XX e, de alguma forma, na actualidade também.

É assim, que em 1885 Joaquim Vieira Botelho e Custódio José Duarte publicam «O Crioulo de Cabo Verde, Breves Estudos sobre o Crioulo das Ilhas de Cabo Verde», oferecido ao estudioso austríaco Hugo Schuchardt.

Mais tarde, já na 1ª metade do século XX, a escrita de base etimológica foi utilizada por vários intelectuais e poetas como: Cónego Teixeira, na 1ª tentativa de cartilha para o ensino do crioulo; Napoleão Fernandes, no seu Léxico do Dialecto Crioulo de Cabo Verde; Eugénio Tavares, no seu livro Mornas-Cantigas Crioulas (1932); Pedro Cardoso, na sua obra Folclore Caboverdiano (1933).

Porém, é na 2ª metade do século XX que a escrita etimológica ganhou maior expressão. Surgiram os primeiros trabalhos académicos com os fi lólogos Baltasar Lopes da Silva e Maria Dulce Almada Duarte, respectivamente com O Dialecto Crioulo de Cabo Verde (1957) e O Crioulo de Cavo Verde - Contribuição para o Estudo do Dialecto Falado no … Arquipélago (1961).

A escrita etimológica, apesar da sua assistematicidade, encontrou eco junto de uma plêiade de poetas, compositores e escritores, sobretudo a partir dos anos 60 do século XX, com: B. Léza, Sérgio Frunzoni, Luís Romano, Jorge Pedro Barbosa, Ovídio Martins, Kaoberdiano Dambará, Kwame Kondé, Emanuel Braga Tavares, Ano Nobo, Manuel d’Novas, entre outros.

2. Experiência Fonético – Fonológica
Em 1975 Cabo Verde conquista a Independência e o País abre-se ao mundo. Os seus quadros são formandos em várias partes do globo e as novidades científicas, técnicas e culturais começaram a chegar às ilhas.

É assim, que em 1979, o então Ministério da Educação, Cultura, Juventude e Desportos organiza, através da Direcção Geral da Cultura, o 1º Colóquio Internacional sobre a Valorização do Crioulo Cabo-verdiano.

A importância histórica desse Colóquio é muito grande já que é nele que surgiu a primeira proposta de um modelo de alfabeto fonético-fonológico para a escrita na língua cabo-verdiana.

Esse modelo, apesar de ser de base latina, afastavas e grandemente do modelo de base etimológica que não só era pouco económico, mas sobretudo era e é pouco sistemático.

A proposta de base fonética-fonológica foi largamente usada, durante dez anos (1979-1989), na recolha e transcrição de tradições orais; na então Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário; no «Bilingual Program», nos EUA; na publicação de várias trabalhos da tradição oral; no ensaio Diskrison Strutural di Língua Kabuverdianu; no primeiro romance na Língua Caboverdiana (Oju d’Agu); na Introdução à Gramática do Crioulo, em vários contos, livros de poesia e teses académicas na Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário.

3. Experiência Unificada entre o Modelo Etimológico e o Modelo Fonológico.
A escrita à base do modelo fonológico surgido em 1979 foi largamente utilizada, mas foi também largamente criticada.

Em 1989, após dez anos de experiência, o modelo foi avaliado no Fórum de Alfabetização Bilingue e chegou-se à conclusão que havia a necessidade de reformar esse padrão de escrita.

Foi criada uma Comissão Consultiva que deu um parecer favorável quanto à reforma pretendida, tendo indicado alguns caminhos que essa reforma deveria tomar.

Assim, em 1993, foi criado o Grupo de Padronização para dar corpo a essas reformas. O Grupo formado por linguistas, professores e escritores trabalhou durante seis meses, tendo apresentado um estudo sobre a matéria e uma Proposta das Bases do Alfabeto Unifi cado para a Escrita do Cabo-verdiano - ALUPEC.

O ALUPEC só viria a ser institucionalizado, a título experimental, quatro anos depois, isto é em Dezembro de 1998.

De então para cá, esse modelo de escrita foi largamente utilizado no ensino em Cabo Verde e na diáspora (EUA, Portugal, Holanda…): na investigação académica e na elaboração de várias teses em Cabo Verde, EUA, Portugal, França…; na edição de várias obras poéticas, ensaísticas, lexicográfi cas e de divulgação de tradições orais.

De sublinhar que após a aprovação do ALUPEC todos os estudos académicos em Universidade estrangeiras e em Institutos Nacionais Superiores de Ensino utilizaram esse modelo de escrita, o que não deixa de ser muito signifi cativo.

É ainda de grande relevância o facto da Comissão Nazarena de Tradução da Bíblia ter adoptado esse modelo de escrita, desde 2000, tendo já traduzido alguns textos evangélicos no livro Notísias Sabi di Jezus.

Um outro dado relevante é a tradução, nesse modelo de alfabeto, de grandes clássicos da literatura portuguesa pelo poeta José Luís Tavares.

Não deixa de ser relevante também a recente tradução, no ALUPEC, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (2008).

4. Avaliação do ALUPEC e Proposta para institucionalização do ALFABETO CABO-VERDIANO
Dez anos após a aprovação do ALUPEC, foi realizado, em Dezembro de 2008, um Fórum para a avaliação desse modelo de escrita, durante o percurso feito e para perspectivar os caminhos do futuro.

O Fórum que reuniu vários utilizadores do ALUPEC (Linguistas, professores, escritores, tradutores…) chegou às seguintes conclusões:
1. Que o ALUPEC é um instrumento útil e funcional para a escrita na língua cabo-verdiana;
2. Que se deve criar incentivos para a escrita do ALUPEC;
3. Que se deve criar um Instituto Autónomo ou uma Academia para se ocupar da problemática da língua cabo-verdiana.
4. Que a padronização da escrita deve ser um caminho sempre em aberto, onde se privilegia a ciência, o consenso e o bom-senso, sujeitos à avaliação e adaptação periódicas. Nesse sentido, deve-se continuar a aprofundar a questão da acentuação e do til, bem como a representação da constritiva velar nasal Ñ, do Y e do LH.
5.Que o ALUPEC - pela funcionalidade e utilidade demonstradas; pelo interesse académico, social e cultural de que tem sido objecto; pela plasticidade na representação de todas as variantes da língua; por não ter tido a concorrência de nenhum outro modelo alfabético sistematizado e consistente - deve ser instituído, defi nitivamente, como Alfabeto Cabo-Verdiano.

Assim,
No uso da faculdade conferida pela alínea a) do nº 2 do artigo 216º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
Artigo1º
(Instituição do Alfabeto Cabo-verdiano)
1. O Alfabeto Unifi cado para a Escrita da Língua Caboverdiana (ALUPEC), aprovado, em regime experimental, pelo Decreto-Lei nº 67/98, de 31 de Dezembro, é instituído como Alfabeto Cabo-verdiano.
2. O Alfabeto Cabo-verdiano funciona como um sistema gráfi co nacional para a escrita da língua cabo-verdiana.

Artigo 2º
Letras e Dígrafos
1. O Alfabeto Cabo-verdiano integra vinte e quatro letras e quatro dígrafos, devendo a ordem das letras figurar antes dos dígrafos.
2. As letras, em maiúsculas e minúsculas, são as seguintes:
a) Maiúsculas
A B D E F G H I J K L M N Ñ O P R S T U V X Y Z
b) Minúsculas
a b d e f g h i j k l m n ñ o p r s t u v x y z
3. Os dígrafos, em maiúsculas e minúsculas, são as seguintes:
a) Maiúsculas
DJ LH NH TX
b) Minúsculas
dj lh nh tx

Artigo 3º
Promoção de medidas

O Governo promove as medidas necessárias com vista ao aprofundamento do estudo científico e técnico do alfabeto, ora instituído, e à padronização da escrita nele baseada.

Artigo 4º
(Entrada em vigor)

O presente diploma entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros.

José Maria Pereira Neves - Manuel Monteiro da Veiga
- Vera Valentina Benrós de Melo Duarte.
Promulgado em 5 de Março de 2009.
Publique-se:
O Presidente da República, PEDRO VERONA RODRIGUES PIRES.
Referendado em 6 de Março de 2009.
1. O Primeiro-Ministro, José Maria Pereira Neves.

sábado, 21 de março de 2009

21 de Março, Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial

A Organização das Nações Unidas - ONU - instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial em memória do Massacre de Shaperville ocorrido na cidade de mesmo nome, na África do Sul, em 21 de Março de 1960.

Em 21 de março de 1960, 20.000 negros protestavam contra a lei do passe, que obrigava os africanos (negros) da África do Sul a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Sob a liderança do Congresso Pan-Africano (PAC) reuniram-se em Shaperville e marcharam calmamente, num protesto pacífico.

Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão e o saldo da violência
foram 69 mortos e 186 feridos.

Após esse dia, a opinião pública mundial focou sua atenção pela primeira vez na questão do Apartheid, e aos horrores que estavam sendo realizados na África do Sul, no dia 21 de Novembro de 1960, a ONU implementou o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, que passou a ser comemorado todo dia 21 de Março, a partir do ano seguinte.
*
A Convenção Internacional para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial da ONU diz no seu art.º 1.º que:
"Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e/ou exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública".
*
Muitos homens e mulheres dedicaram suas vidas à luta pelos direitos civis e pelo fim da discriminação racial.

Martin Luther King Jr.

Foi um grande líder negro americano que lutou pelos direitos civis dos cidadãos, principalmente contra a discriminação racial. Martin Luther King era pastor e sonhava com um mundo onde houvesse liberdade e justiça para todos. Ele foi assassinado em 4 de abril de 1968. Sua figura ficou marcada na História da Humanidade como símbolo da luta contra o racismo. Em 1965, Martin Luther King lidera 3.200 pessoas no início da terceira e finalmente bem-sucedida marcha pelos direitos civis de Selma até Montgomery, Alabama.

Na véspera de sua morte, 3 de abril de 1968, Martin Luther King fez um discurso à comunidade negra, no Tennessee, Estados Unidos, um país dominado pelo racismo. Em seu discurso ele disse: "Temos de enfrentar dificuldades, mas isso não me importa, pois eu estive no alto da montanha. Isso não importa. Eu gostaria de viver bastante, como todo o mundo, mas não estou preocupado com isso agora. Só quero cumprir a vontade de Deus, e ele me deixou subir a montanha. Eu olhei de cima e vi a terra prometida. Talvez eu não chegue lá, mas quero que saibam hoje que nós, como povo, teremos uma terra prometida. Por isso estou feliz esta noite. Nada me preocupa, não temo ninguém. Vi com meus olhos a glória da chegada do Senhor".

Ele parecia estar prevendo o que ia acontecer. No dia seguinte, foi assassinado por um homem branco. Durante 14 anos, Martin Luther King lutou para acabar com a discriminação racial em seu país e nesse tempo ganhou o prêmio Nobel da Paz. Sempre procurou lembrar a todos e fazer valer o princípio fundamental da Declaração da Independência Americana que diz que "Todos os homens são iguais" e conseguiu convencer a maioria dos negros que era possível haver igualdade social. Alguns dias após a morte de Martin Luther King, o presidente Lyndon Johnson assinou uma lei acabando com a discriminação social, dando esperanças ao surgimento de uma sociedade mais justa de milhões de negros americanos.

Martin Luther King é lembrado em diversas comemorações públicas nos Estados Unidos e a terceira segunda-feira de janeiro é um feriado nacional em sua homenagem.

Malcolm X

"Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos. Lutamos por direitos humanos."

Malcolm X, ou El-Hajj Malik El-Shabazz, foi outra personalidade que se sobressaiu na luta contra a discriminação racial. Ele não era tão pacífico como Luther King, que era adepto da não-violência, entretanto foram contemporâneos e seus ideais eram bem parecidos buscando a dignidade humana, acima de tudo.

Há quem diga que Malcolm X foi muito mais que um homem, foi na realidade uma idéia. Desde cedo ele enfrentou a discriminação e marginalização dos negros americanos, que viviam em bairros periféricos, excluídos e sem condições dignas de habitação, saúde e educação.

Foi nesse cenário que Malcolm X se tornou um dos grandes líderes do nosso tempo, dedicando-se à construção e organização do Movimento Islâmico nos Estados Unidos (Black Muslim), defendendo os negros e a religião do islamismo. Em março de 1964, afastou-se do movimento e organizou a Muslim Mosque Inc, e mais tarde a Afro-Americana Unity, organização não religiosa.
Malcolm X foi um dos principais críticos do sistema americano. E por isso mesmo era visto pela classe dominante como uma ameaça a esse sistema. No dia 21 de fevereiro de 1965, na cidade de Nova Iorque, foi assassinado por três homens, que dispararam 16 tiros contra ele. Muitas de suas frases ficaram famosas. Veja alguns de seus pensamentos:

Sobre seu nome:"Neste país o negro é tratado como animal e os animais não têm sobrenome".

Sobre os americanos:"Não é o fato de sentar à sua mesa e assistir você jantar que fará de mim uma pessoa que também esteja jantando. Nascer aqui na América não faz de você um americano".

Sobre a liberdade:"Você só vai conseguir a sua liberdade se deixar o seu inimigo saber que você não está fazendo nada para conquistá-la. Esta é a única maneira de conseguir a liberdade".

Nelson Mandela

"A luta é minha vida". A frase de Nelson Mandela, nascido em 1918, na África do Sul, resume sua existência. Desde jovem, influenciado pelos exemplos de seu pai e outras pessoas marcantes na sua infância e juventude, Mandela dedicou sua vida à luta contra a discriminação racial e as injustiças contra a população negra.

Mandela foi o fundador da Liga Jovem do Congresso Nacional Africano, em 1944, e traçou uma estratégia que foi adotada anos mais tarde pelo Congresso na luta contra o apartheid. A partir daí ele foi o líder do movimento de resistência a opressão da minoria branca sobre a maioria negra na África do Sul.

Hoje, ele ainda é símbolo de resistência pelo vigor com que enfrentou os governos racistas em seu país e o apartheid, sem perder a força e a crença nos seus ideais, inclusive nos 28 anos em que esteve preso (1962-1990), acusado de sabotagem e luta armada contra o governo. Nem mesmo as propostas de redução da pena e de liberdade que recebeu de presidentes sul-africanos ele aceitou, pois o governo queria um acordo onde o movimento negro teria que ceder. Ele preferiu resistir e em 1990 foi solto. Sua liberdade foi um dos primeiros passos para uma sociedade mais democrática na África do Sul, culminando com a eleição de Nelson Mandela como presidente do país em 1994. Um fato histórico onde os negros puderam votar pela primeira vez em seu país.

Leia mais sobre Nelson Mandela e a discriminação racial na África do Sul no texto Apartheid, o racismo legalizado.

O apartheid foi um dos regimes de discriminação mais cruéis de que se tem notícia no mundo. Ele vigorou na África do Sul de 1948 até 1990 e durante todo esse tempo esteve ligado à política do país. A antiga Constituição sul-africana incluía artigos onde era clara a discriminação racial entre os cidadãos, mesmo os negros sendo maioria na população.

Em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, os europeus chegaram à região da África do Sul. Nos anos seguintes, a região foi povoada por holandeses, franceses, ingleses e alemães. Os descendentes dessa minoria branca começaram a criar leis, no começo do século XX, que garantiam o seu poder sobre a população negra. Essa política de segregação racial, o apartheid, ganhou força e foi oficializada em 1948, quando o Partido Nacional, dos brancos, assumiu o poder.

O apartheid, que quer dizer separação na língua africâner dos imigrantes europeus, atingia a habitação, o emprego, a educação e os serviços públicos, pois os negros não podiam ser proprietários de terras, não tinham direito de participação na política e eram obrigados a viver em zonas residenciais separadas das dos brancos. Os casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes eram ilegais. Os negros geralmente trabalhavam nas minas, comandados por capatazes brancos e viviam em guetos miseráveis e superpovoados.

Para lutar contra essas injustiças, os negros acionaram o Congresso Nacional Africano - CNA, uma organização negra clandestina, que tinha como líder Nelson Mandela. Após o massacre de Sharpeville, o CNA optou pela luta armada contra o governo branco, o que fez com que Nelson Mandela fosse preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. A partir daí, o apartheid tornou-se ainda mais forte e violento, chegando ao ponto de definir territórios tribais chamados bantustões, onde os negros eram distribuídos em grupos étnicos e ficavam confinados nessas regiões.

A partir de 1975, com o fim do império português na África, lentamente começaram os avanços para acabar com o apartheid. A comunidade internacional e a Organização das Nações Unidas - ONU faziam pressão pelo fim da segregação racial. Em 1991, o então presidente Frederick de Klerk não teve outra saída: condenou oficialmente o apartheid e libertou líderes políticos, entre eles Nelson Mandela.

A partir daí, outras conquistas foram obtidas: o Congresso Nacional Africano foi legalizado, De Klerk e Mandela receberam o Prêmio Nobel da Paz (1993), uma nova Constituição não-racial passou a vigorar, os negros adquiriram direito ao voto e em 1994 foram realizadas as primeiras eleições multirraciais na África do Sul e Nelson Mandela se tornou presidente da África do Sul, com o desafio de transformar o país numa nação mais humana e com melhores condições de vida para a maioria da população.

Mais aconteceu no mês de Março:

06 -Independência de Gana (Costa do Ouro), o primeirp país africano a tornar-se independente, tendo como mentor o líder Kwuame Nkrumah (1957);07 - Grande marcha pelos direitos civis, de Selma a Montgomery, liderada por Martin Luther King Jr. (1963);

08 - Dia Internacional da Mulher;

14 - Nasce Antônio de Castro Alves, poeta e abolicionista (1847); Nasce Abdias do Nascimento, criador do Teatro Experimental do Negro (1914);

19 - Revolta do Queimado, principal movimento de luta contra a escravidão do Espírito Santo (1849);

21 - Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, em memória das vítimas do massacre de Shaperville, na África do Sul (1960);

30 - Conquista do direito de voto pelos homens afro-americanos nos EUA (1870).

sexta-feira, 20 de março de 2009

No Maio descobri!...

Na ilha do Maio, Arquipélago de Cabo Verde, descobri que esta ilha é parente próxima de Santiago, que o resto do nosso Continente fica a Leste de Cabo Verde, que o Sol realmente nasce na Ethiopia por isso a designação “o povo da face queimada”.

Mais descobri que ...

Cabo Verde tem cinco ilhéus: ilhéu branco, ilhéu razo, ilhéus seco ou rombo os quais ilhéu de Cima, ... Realmente descobri que Cabo Verde é rico e bonito. Descobri nas palavras de um jovem que Cabo Verde é rico por causa dos seus artistas, por causa da beleza de sua natureza. Que as pessoas começaram a descobrir Cabo Verde por causa de Cesária Évora, ah isso já sabiaaa. E que os caboverdianos continuam a sub-valorizar e a sub-aproveitar Cabo Verde, ah isso também já sabia. Que achamos que as nossas únicas riquezas são as nossas praias, por isso devemos aproveitá-las para o Turismo, isso também, acho, que já sabia. Que apesar da contínua vinda desenfreada de estrangeiros para a nossa nação, os mesmos revelaram-se descontentes com a situação actualmente vivida em Cabo Verde (...) também já sabia. E, que, igualmente, os nacionais estão assustados com tanta violência, delinquência, corrupção, isso já sabia e pressentia a algum tempo atrás.

Mais descobri que ...

Daqui a poucos anos da beleza peculiar da ilha do Maio restará muito pouco. O dragão Turismo avança e num mesmo andar da ilha do Sal e Boavista, dizem os maienses, duvidosos das perspectivas políticas de desenvolvimento turístico, certos de que as suas praias não mais serão para caminhadas e demais outras pequenas delícias.

Mais descobri no Maio de que Cabo Verde é LINDOOO e PRECIOSO. Que os estrangeiros não veem à Cabo Verde para investir, mas também para desfrutar as suas maravilhas ora inexistentes nos seus países de origem. E que também veem para fugir do frio e do magro montante por eles recebido a título de reforma, por isso a grande maioria idosa. Isso TODOS sabemos.

Sei que se realmente amamos o nosso país devemos levar/trazer a educação, conhecimento e Informação mais próximo da população segundo a palavra de ordem de Abel Djassi “Aqueles que sabem devem ensinar aqueles que não sabem”. Não para construir um país/continente igual ao europeu ou americano, mas para debelar a desinformação, a inércia, a preguiça, a baixa auto-estima, o desemprego, mais ainda, a confusão mental e material (física) implantada pelo estado actual da Media que oferece e propaga apenas programas decadentes, excessivamente repetitivas, cujos conteúdos evidenciam-se bastante remotos.

No Maio descobri que é preciso lutar, pelos ideiais, pela personalidade, pelos direitos. Deve-se lutar pelo direito à educação e pelo direito ao trabalho. Descobri que o Estado Cabo Verdiano, através do Governo da situação, tem a obrigação de criar condições para garantir a todos os seus cidadãos o exercício do seu direito ao trabalho. Que é preciso nos valorizar-mos mais exigindo mais respeito e observância das normas inerentes a realização adequada da nossa profissão.

Descobri que toda a profissão tem o seu valor e função social por isso devemos valorizar e respeitar os varredores de rua, os trabalhadores portuários, os condutores de transporte público, enfim todos são merecedores de respeito advindo da própria condição humana.

Que no Maio as pessoas são consideradas pelos estrangeiros de preguiçosas ...

Mais descobri que ... temos ainda muito por descobrir na próxima vinda/ida ao Maio.

domingo, 15 de março de 2009

Hip Hop Crioulo

O juízo de apreciação que a maioria dos caboverdianos têm do Hip Hop está hoje associado a criminalidade, violência, delinquência juvenil e, ainda, impregnada de pré-conceitos e discriminação.
Aconteceu ontem no antigo Cinema do Bairro Craveiro Lopes pelas 20:00 horas um Concerto de Hip Hop que reuniu no mesmo palco uns dos cantores considerados mais conceituados na Ilha de Santiago nomeadamente Republica, Afro-Democratas, Critikus, West Side. Na rua do cinema estavam muitos adolescentes e jovens, todos entusiasmados, a prepararem-se para a almejada grande noite; poucas mulheres vendedeiras a facultar produtos variados para todos os gostos desde o famoso pão com linguiça a guarrafas de fanta abastecidas de ponches caseiros.
A maioria da Juventude de Achadinha, inclusive Bairro Craveiro Lopes, estava ontem á noite no cinema do Bairro, o que tornou evidente a sua preferência cultural. Dentro do cinema, um jovem, bem alcoolizado, começa a antipatizar-se com uma cadeira empurrando-a, duas crianças brigam, e o sentimento colectivo era de medo. Medo que alguém iniciasse o que todos temiam: discórdia seguida de morte. E, ainda, para concluir, o som não estava bom.
O Hip Hop surgiu em Cabo Verde, por influência afro-americana, no ambiente de alguns jovens caboverdianos detentores de um espírito crítico, como uma forma adequada para intervir e expressar livremente, mais, particularmente, uma saudável alternativa de lazer. Viveu-se bons momentos de orientação em grupo. Aqueles jovens, apesar de igualmente desconhecedores da verdadeira História do Hip Hop, preferiam a inteligência em detrimento da violência, conscientes dos malefícios da violência e da Media.
O Hip Hop apareceu no Harlem, Estados Unidos da América, como uma luta de libertação, tempos depois da abolição da escravatura, numa época em que os africanos e seus descendentes nascidos na América não usufruíam dos seus direitos humanos básicos como o direito à liberdade e à determinação entre demais outros civis e políticos. Ergueram no Harlem, contra o racismo e a discriminação, revolucionários que utilizaram ritmos e poesias de intervenção para pregar a Igualdade Racial e Social naquele país.
Actualmente, em Cabo Verde, contrariamente ao seu sentido original, o Hip Hop é severamente criticado e discriminado pela população caboverdiana que está consciente de ser ele a causa principal da delinquência juvenil, isso integralmente por causa da postura dos próprios cantores (com a excepção dos 5% nação), que usam e abusam de drogas e violências (física ou verbal), não sendo os mesmos suficientemente exigentes para escrever uma boa poesia, reflexo das injustiças, desigualdades e mal- governação nacional e internacional.
Ontem, durante o evento, excepcionalmente, apenas dois grupos demonstraram-se preocupados em individualizar e divulgar um Hip Hop Crioulo recitando usos e costumes antigos como “tomar benção”.
Logo, notória a necessidade de estudo e conhecimento profundo da História de Cabo Verde, de mais demanda de informação e actualização sobre a realidade social e humana Caboverdiana, para somente depois com Hip Hop, reunindo assim preocupações e expectativas de uma grande maioria da população, exigir melhoria de qualidade de vida de Cabo Verde e caboverdianos.
É preciso escrever o valor da Mulher, o Amor, a Paz, a Sida, a nossa condição de arquipélago, a democracia, também o conceito de pobreza, as doenças tropicais e modernas, a deliquência juvenil, abusos sexuais infantil, violência doméstica, a participação activa dos caboverdianos na vida púbica, a necessidade de Transparência na Governação e, particularmente, o estado actual do nosso continente, entre muitos outros temas de relevância social.
Nós podemos.

Tchippie

sábado, 7 de março de 2009

FORAM AS DORES QUE O MATARAM

Não importa o dia. Nem mesmo importa o ano em que se conheceram. Aconteceu. E houve um momento em que se amaram. Talvez tenha havido muitos momentos em que se amaram.

Depois a rotina de vidas que se afastaram e, incompreensivelmente, continuam juntas. E dramaticamente caminham juntas, num desafio permanente à vida, à morte, ao direito de viver.

Não matei o meu marido.

Eu amava-o. Porque matá-lo?

Foram as dores do corpo que o condenaram. O sangue pisado, o ventre moído, as feridas em pus.

Foram as pancadas de ontem, as de hoje e, sobretudo, as pancadas de amanhã que o mataram.

Eu amava-o. Porque matá-lo?

Às vezes ficava à janela, meio escondida, vendo-o partir para o trabalho com a roupa que eu lavara e engomara. Gostava do seu modo de andar, do jeito como inclinava a cabeça. Via-o partir e ali ficava horas e dias à espera que voltasse e me trouxesse um riso e a esperança de que as coisas iriam mudar. Nesse dia não lembraria mais os tempos duros, os paus de pedra que me roíam e me desgastavam as entranhas. Mas para mim, não voltava nunca. Apenas para pedaços de meu corpo que esquecia logo.

Eu amava-o. Porque matá-lo?

Ele matou-se. Criou um espaço onde coabitavam a violência, a destruição, a miséria, o animalesco. E nós.

Deu-me as armas e fez-me assassina.

... Depois ficou tudo escuro

E o corpo a doer, a doer, a ...


Um soluço frágil absorve a última palavra.

(in Mornas eram as Noites de Dina Salústico, 1994)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Pegadas humanas de 1,5 milhão de anos


Cientistas encontraram pegadas no Quênia

Pegadas de 1, 5 milhão de anos foram encontradas por cientistas no Quênia. As marcas mostram os pés e a maneira de caminhar de alguns dos primeiros hominídeos.

As pegadas mostram sinais de dedos arqueados, curtos e alinhados, que diferem de pegadas mais antigas e se assemelham ,port.anto, ao andar do homem moderno. Cientistas atribuem marcas ao Homo erectus.

As marcas não são as mais antigas pertencentes a um membro da linhagem humana, já que marcas do Australopithecus afarensis, de 3,7 milhões de anos atrás, foram encontradas em 1978 em Laetoli, na Tanzânia. Pés chatos e um ângulo bem maior entre o dedão e os demais dedos do pé indicam pés que ainda 'agarravam' o chão.

Pegadas foram encontradas nas proximidades de Ileret, no norte do Quênia. A descoberta foi publicada na revista Science.

domingo, 1 de março de 2009

As Mulheres nossas Rainhas...

No princípio as mulheres e os homens eram “Carne da minha Carne e Ossos dos meus Ossos”. E por isso “o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa”. Em todas as comunidades, desde o princípio, viviam um em complemento do outro. Nas primeiras monarquias, governavam em conjunto. No sistema actual, o capitalista, este par, pai e mãe da humanidade, gladiam-se como dois inimigos.

A mulher no seu estado natural governara mundos e liderou grandes e vitoriosas batalhas. Temos o exemplo de Candaces as Tyie, Nzinga, Winnie Mandela, M. Angelou, Yaa Asantewa, Isis, Hypatia, Makeda, Hatshepsut. Todas mulheres educadoras das suas famílias, companheiras, grandes líderes comunitárias e governadoras.

A mulher era valorizada e se valorizava, conhecia o Segredo da Vida e respeitava-a, não tinha nenhuma necessidade de afirmação. Hoje, o macho e a fêmea estão num crescente círculo de agressão, verbal, física e espiritual. Inúmeras são as queixas dadas e as denúncias apresentadas em todos os meios de comunicação, hospitais e órgãos estatais sem possibilidades de soluções adequadas a problemática.

A violência baseada no Género, designação dada a situação/condição actual da mulher e do homem, no seu ramo violência doméstica, tem antecedentes em demais factores para além do uso e tráfico de drogas, da consolidação de sistemas económicos e regimes políticos lacunosos, como, ainda, na padronização da beleza feminina.

No mundo contemporâneo as mulheres procuram alcançar um estado, intimamente constituído, de igualdade em relação ao homem, mas faz-o, permitam-lhe dizê-lo, de forma errónea. Não é mudando comportamentos, indumentos, mulheres carregando penedos, subindo árvores, ocupando cargos de chefia ou na governança. Interessa sim que possa estar em equilíbrio consigo mesma, com o seu parceiro, sua missão, e consequentemente, com todo o Universo.

Neste mês considerado o da Mulher e principalmente a Mulher Africana pretende-se homenagear as grandes rainhas, guerreiras, revolucionárias, educadoras, poetisas, artesãs, griots, camponesas, vendedeiras, donas-decasa, trabalhadoras, mães, irmães, filhas, todas as mulheres africanas.

Abeba