quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Quarta-Feiras de Cinzas

A Quarta-Feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma, que é o período de tempo de quarenta dias de jejum e abstinência. É uma data religiosa de tradição para a Igreja católica, em que, a maioria dos fiéis vão à Missa de Imposição de Cinzas, na qual o padre faz uma cruz na fronte dos fiéis com a cinza dos ramos benzidos como símbolo de penitência.

Entretanto, esta data é celebrada pela maioria das famílias caboverdianas com muita fartura, em que grande parte da população participa, confeccionando um mesmo prato tradicional, constituído por cozido de peixe seco, cujo ingredientes são couve, mandioca, batata doce, bata inglesa, “axim” (leite de coco), e uma sobremesa a base de mel e cuscuz.

Têm, ainda, a tradição de após um almoço farto, todos sentarem ao sol para facilitar a digestão. Muitos, também, aproveitam a época para reunir toda a família.

Abeba e Kondoxa

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Carne-Vale

1. Antes “alvo de muita repressão de quem não tolerava a subversão de um mundo virado do avesso”, agora uma festa, oficial, celebrado por todos, no mundo inteiro. Contudo poucos lhe conhecem o significado e a origem.

I. Alguns significados

2. Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa, Melhoramentos, o Carnaval é “o período de três dias que precede a quarta-feira de cinzas”, sendo este o primeiro dia da Quaresma, aquele que o padre faz uma cruz na fonte de fiéis com a cinza dos ramos bentos. Fixa ainda que o Carnaval é “festejos que se realizam durante esses dias, iniciando-se no sábado imediatamente anterior”;

3. Concomitantemente, o Dicionário Prático Ilustrado, Lello, assevera que é a “época imediatamente anterior à Quaresma”, o período de abstinência de quarenta dias para os Católicos, entre a quarta-feira de cinzas e o domingo de Páscoa. O “tempo de folia que precede a Quarta-Feira de Cinzas. Entrudo”. E, ainda, “folguedo, orgia”.

4. O carnaval é considerado a ocasião oportuna para “a transgressão, o corpo, o prazer, a carne, a festa, a dança, a música, a arte, a celebração, a inversão de papéis, as cores e a alegria”.

II. Origem

5. A origem das primeiras festas carnavalescas ainda é motivo de polémica, “pois a sua memória vem do inconsciente colectivo dos povos”;

6. Provalmente, a comemoração do Carnaval tem as suas raízes nalguma festa antiga realizada pelos povos originais “em honra do ressurgimento da primavera”;

7. “A folia ter-se-á iniciado como uma espécie de culto feito para louvar uma boa colheita agrária,onde as pessoas, mascaradas, dançavam e bebiam. As pessoas, no momento da festa, afastavam as suas preocupações,e saudavam o que lhes parecia um bem com danças e cânticos para espantar as forças negativas que prejudicavam a fertilidade”. Consiste em “danças e cânticos em torno de fogueiras, incorporando-se aos festejos, máscaras e adereços”;

8. Nesta perspectiva, alguns autores acreditam que o Carnaval “tenha-se iniciado nas alegres festas do antigo Egipto, nomeadamente nos festejos associados ao culto da Deusa Ísis, desde o ano 2000 a.C.”, que possuía títulos, como a água frutificativa, a Rainha da abundância e a fonte de prosperidade, entre muitos outros, todos ligados a agricultura. A festa era “dança e cantoria em volta de fogueiras. Os foliões usavam máscaras e disfarces simbolizando a inexistência de classes sociais”.

9. Consequentemente, surge na Antiga Grécia, nos cultos agrários, de 605 a 527 a.C. “Com o surgimento da agricultura, as pessoas passaram a comemorar a fertilidade e produtividade do solo. Estava associado a “cultos ao Deus Dionísio”, o deus ressurrecto dos gregos, bem como o Deus Osíris (Egipto), o primeiro da longa linha de Deuses Ressurrectos;

10. Consta que as primeiras seguidoras do deus Dionísio foram “mulheres que viram nos dias que lhe eram dedicados um momento para escaparem da vigilância dos maridos, dos pais e dos irmãos, para poderem cair na folia "em meio a danças furiosas e gritos de júbilo";

11. Nos dias permitidos, as mulheres, chamadas de coribantes ou sacerdotes da Deusa Cíbele, saíam aos bandos, com o rosto coberto de pó e com vestes transformadas ou rasgadas, cantando e gritando pelas montanhas gregas. Os homens, transfigurados em silenos (Deus da mitologia greco-romana, companheiro de Baco) e sátiros (Semideus dos pagãos), não demoraram em aderir às procissões de mulheres e ao "frenesi dionisíaco";

12. A festança que se estendia por três dias, encerrava-se com uma bebedeira colectiva no meio de um «vale-tudo» pan-sexualista. O miserável vestia-se de rei, o ricaço de pobretão, o libertino aparece como guia religioso, e a rameira local posava como a mais pura donzela, machos reconhecidos vestem-se como fêmeas, e assim por diante;

13. Dionísio brincalhão, irreverente e debochado, estimulava que virassem o mundo de cabeça para baixo.

14. Depois na Roma, “os festejos eram de tal importância que tribunais e escolas fechavam as portas durante o evento, escravos era malforriados e as pessoas saíam às ruas para dançar. Corridas de cavalo, desfiles de carros alegóricos, brigas de papelinhos,corridas de corcundas, lançamentos de ovos e outros divertimentos generalizavam a euforia. Na abertura dessas festas ao Deus Saturno (Deus das Sementeiras), carros com aparência de navios surgiam na "avenida", com homens e mulheres nus. Estes eram chamados os carrum navalis, para muitos a origem da expressão «carnevale».

15. O Carnaval Pagão da Grécia começa quando o tirano de Atenas, Pisistráto (cerca de 600-527 a. C.), oficializa o culto a Dionísio na Grécia, no século VII a.C. e termina, quando a Igreja Católica adopta a festa em 590 d.C;

16. A Igreja Católica, que considerava tais festejos mundanos, determinou que a folia deveria ser realizada dias antes do início da Quaresma. O Carnaval, que nunca foi bem visto pela Igreja Católica, ganharia, ao menos na teoria, algum significado.

17. Uma vez que a festa da semeadura tornou-se pagã e obscena, “a Igreja decidiu adoptar essas festas, transformando-as em libertárias na tentativa de domesticá-las. A solução foi determinar que todas as festas do género realizadas na época (século XV) fossem promovidas na véspera do início da Quaresma, como uma espécie de compensação para a abstinência que antecede a Páscoa";

18. Estava reduzido o Carnaval à celebração ordeira, de carácter artístico, com bailes e desfiles alegóricos;

19. Originariamente os cristãos começavam as comemorações do Carnaval a 25 de Dezembro, compreendendo os festejos do Natal, do Ano Novo e de Reis, onde predominavam os jogos e os disfarces;

20. O Carnaval fixou-se nas cidades de Nice, Roma e Veneza e passou a irradiar para o mundo inteiro o modelo de Carnaval que ainda hoje identifica esta festa com mascarados, fantasiados e desfiles de carros alegóricos.

21. A festa chegou em Portugal nos séculos XV e XVI, recebendo o nome de Entrudo - isto é, introdução à Quaresma – através de uma brincadeira agressiva e pesada. Tinha característica essencialmente gastronómica e era marcado por um divertimento com alguma violência por isso a festa foi perdendo a sua alegria.

22. Em finais do séc. XIX, nas aldeias portuguesas, o Entrudo era um momento de transgressão calendarizada e aceite por todos. Na cidade, o Carnaval transformou-se numa forma de "luta de classes”. Os exageros do Carnaval urbano foram regulamentados e domesticaram-se os festejos, com a criação dos desfiles (Ramos, 1994: 81-82).

23. Foi exactamente esse Entrudo violento que foi inicialmente importado para o Brasil. O Carnaval brasileiro surge em 1723, com a chegada de portugueses das Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. A principal diversão dos foliões era atirar água uns aos outros. Em 1855 surgiram os primeiros grandes clubes carnavalescos, precursores das actuais escolas de samba;

24. Portanto, o Carnaval não é, como muitos pensam, brasileiro. Não obstante, foi no Brasil que ganhou a maior dimensão no mundo e tornou-se, além de uma festa popular, um produto de exportação que atrai em cada início de ano milhares de turistas para o Brasil.

III. Em Cabo Verde

25. Constatou-se, nos anos anteriores, a utilização por parte de alguns foliões, de objectos cortantes, nomeadamente, catanas, facas e paus com pregos, bem como, de trajes e cartazes que apelam à obscenidade durante os desfiles carnavalescos. Por isso as Câmaras municipais apelam aos munícipes para evitarem o uso de armas brancas e de trajes e cartazes com dizeres obscenos;

26. Como previsto no orçamento para 2009, a Câmara Municipal de São Vicente atribuiu 7 mil contos ao carnaval deste ano, destinados a subsidiar os grupos participantes, aos prémios e à preparação e logística do desfile de terça-feira. A cada um dos grupos oficiais, Montessossego, Fonte -Felipe em Acção, Flores do Mindelo, Maravilhas do Mindelo e Cruzeiros do Norte, cabe uma fatia 450.000$00 (quatrocentos e cinquenta mil escudos) da qual já receberam a 1ª tranche, no valor de 250.000$00 (duzentos e cinquenta mil escudos). O restante será entregue após a visita da comissão organizadora aos estaleiros e aos locais de ensaio. O subsídio a ser atribuído aos grupos de animação ainda está por definir, já que as inscrições ainda se encontram abertas e vai, assim, depender do número de inscritos.

27. A Câmara Municipal da Praia disponibiliza 600 mil escudos para galardoar três dos cinco blocos carnavalescos oficiais inscritos para o desfile, de terça-feira, de Carnaval na Avenida Cidade de Lisboa. Bloco Afro Abel Djassi (vencedor do concurso de 2008); Vindos d’África, do Bairro Craveiro Lopes; Estrelas de São Filipe; Grupo Sem Vergonha, de Achada Grande e Grupo Inter Ilhas são os grupos oficiais que concorrem aos prémios carnavalescos de 300, 200 e 100 mil escudos, para os três primeiros classificados. Foi atribuida uma quantia financeira de 250 mil escudos disponibilizados pela autarquia a cada grupo sénior; 100 mil escudos aos de animação; 120 mil para cada uma das escolas do EBI e 75 mil para cada jardim infantil.

28. Conforme o gabinete do Secretário de Estado da Administração Pública, em todas as ilhas, com excepção de S. Vicente, é concedida tolerância de ponto no dia 24 de Fevereiro – Dia do Carnaval, no 2º período e durante todo o dia 25, Dia de Cinzas. Na Ilha de São Vicente, o Executivo concedeu tolerância de ponto na terça-feira, 24, durante todo o dia e quarta-feira, 25, durante o primeiro período do dia.

Abeba

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Ditador

Sobre a tua cabeça
Disparo
A lei desfeita
Em pedaços
E dos pedaços
Desses pedaços
Sai a sorte
Que te destino!

/Almada/

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O “DESASTRE DE ASSISTÊNCIA”

A designação remonta-nos a um dos anos de crise mais terrivéis em Cabo Verde. A última com “mortandades colectivas, restando à população o recurso à emigração”.

“A seca e a fome de 1947 foi uma das que mais marcas deixou na consciência dos cabo-verdianos, por ser a mais recente, violenta e de triste memória”. Além disso, por ser a causa determinante do Desastre de Assistência.

Para combater a crise de 1945 - 1949, o Governo Colonial decidiu mandar construir um barracão – celebremente conhecido por o barracão do Ministério da Colónia - onde se oferecia uma refeição por dia às pessoas com fome.

No dia 20 de Fevereiro de 1949, por volta das 11:30 e 12:00 hs, ouviu-se um “estrondo forte provocado pelo desmoronamento do muro sul que delimitava o quintalão das obras públicas que albergava os assistidos”.

Um alto muro, de péssima construção, desabou sobre o barracão onde 2500 pessoas recebiam refeições oferecidas pelas autoridades coloniais, vitimando 232 pessoas e 47 feridos. Mortalidade determinada não exclusivamente a crise natural, mais a inércia do Governo colonial de Salazar que recusou “a ajuda, prontificada por alguns países” já que predominavam as lutas de libertação nacional nas ex-colónias portuguesas e a independência dos Países Africanos. A Rádio Moscovo bem noticiou que “o desastre na Cidade da Praia define um Governo”.

Contudo, todos os particulares, funcionários e comerciantes, independentemente das classes sociais, cientes da carência actual de recursos humanos, dirigiram-se ao Hospital Agostino Neto para oferecer ajuda e solidariedade.

Acerca do Congo

http://www.youtube.com/watch?v=gKu3vPQ6ZhQ